segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...

Acontece que se saber leva um certo tempo, e não significa que saibamos lidar com quem somos.  Bom, claro que só posso me referir a mim mesma. E sinto que estou em plena crise de meia idade. (Um saco, diga-se de passagem)

Uma coisa que complica isso deve-se ao fato de o ser humano ser um bicho complexo, de modo que a gente não é estável. Às vezes leva um tempo construindo alguma coisa, a partir de uma certa relação custo/benefício, digamos uma carreira, e no meio do caminho avaliamos com um peso diferente, só que o que é de longo prazo precisa que esperemos o prazo pra reavaliar.

Quando eu era mais nova, acreditava que a idade, combinada com a vivência, resolveria algumas questões, por formar experiência e trazer paciência. Bom, em parte isso aconteceu sim, mas não foi a solução ou não teve o efeito que eu esperava. Isso por um lado me anima, me parece significar que estou viva, com dúvidas, portanto não cristalizada como uma pedra em posturas ou comodismos.


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Cetrezas ou armadilhas.


Certeza é uma coisa que a gente não deve cultivar, é o que se diz. Mas como a gente vive sem ter ao menos alguma certeza temporária? Isso seria como andar sem saber se o pé está alcançando o chão. Mas aquilo que temos como certo  ou garantido geralmente se transforma num muro de concreto em que a gente tromba quando a coisa muda. Trombar com um muro causa dores e deixa a gente desnorteado, sem falar na sensação de ressaca.

Realmente, certezas podem ser como plantas. Plantas crescem, duram um tempo mas, mesmo a gente cuidando bem, estão sujeitas aos efeitos do tempo que não controlamos - muito sol, muita chuva, muito calor, muito frio; elas são efêmeras, plantas e certezas.

É muito irritante isso de não sabermos nunca o que vai acontecer quando tomamos uma estrada, mesmo a gente sabendo que a vida é assim mesmo. Tem coisas que eu quero que não são possíveis, sobretudo uma: eu queria muito ser a escolha de alguém; nunca isso vai acontecer, eu sei. Saber isso deixa um cansaço.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Educação e espaço público.

Ontem à noite, quando eu caminhava em São Gonçalo, vi uma cena que tenho visto se repetir cada vez mais, de dez anos pra cá:
 - Dois meninos, com aproximadamente 11 anos cada, andavam de bicicleta e passaram bem perto de uma senhora que, aparentemente, vinha de uma igreja evangélica (roupas,bíblia, cabelo preso), e gritaram para assustá-la, ao se aproximar bastante. Ela não se assustou, parou e olhou para eles,  e um disse: "quase cai, tia", com muito cinismo.

Entendo crianças curiosas mexendo onde não devem, olhando em buracos de fechaduras, aprontando com o grupo para merecerem pertencer ao grupo, rivalizando com a autoridade da família e da escola, mas qual o propósito em assustar e tentar provocar a queda de idosos, ou quaisquer transeuntes? De onde vem isso?

Se eu pensar nos exemplos que o mundo atual fornece, tenho de admitir que a violência está mesmo em alta.    Se eu pensar no pouco tempo que hoje se dedica a educação dos filhos, isso também faz sentido; me parece mesmo que a transmissão de valores, mais do que fora de moda, foi trancada numa gaveta, cuja chave foi derretida em seguida na fechadura. Só que todas as omissões, públicas e privadas, estão se voltando contra todos nós, omissos e bons pais.

Mas o que me interessa mesmo saber é: como é que a gene conserta isso? Como é que a gente põe os valores em alta de novo: honestidade, respeito, honra. Como?

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Olhando para o horizonte, como metáfora e como paisagem mesmo.


É muito bom poder olhar para uma paisagem como esta, no MAC de Niterói, que eu prefiro chamar de nave espacial do Niemeyer. E poder olhar essa paisagem envolve a visão perfeita e a oportunidade de frequentar esse lindo lugar.

Quando a gente está construindo um cidadão, situação também conhecida como criar um filho ou uma filha, é preciso ter em mente o tal horizonte metafórico, que é o futuro da criaturinha quando tornar-se um cidadão adulto, dono e senhor do próprio nariz (claro, do modo que o capitalismo permitir, nunca esquecendo...).

Essa idade entre os 6 e os 11 anos, em que é preciso que eles brinquem, mas é muito importante que aprendam a lidar com a escola é bem difícil conciliar essas necessidades. Meu pequeno está nessa fase, 9 anos, 4º ano (antiga 3ª série). Não é um período tranquílo, porque ser dura te põe numa posição de vilã, e não é momento de se preocupar com popularidade, se me entendem.

sexta-feira, 9 de novembro de 2012


Eu hoje estou tendendo a dizer coisas óbvias, como o fato de sermos obrigados, no Brasil, a manter nossos filhos na escola até os 17 anos significar que temos de ensiná-los a serem alunos, o que é bem diferente de simplesmente estar presente burocraticamente lá. Pois é, essa tremenda falta de educação que vemos os nossos alunos demonstrar do Oiapoque ao Chuí não deveria fazer parte do contexto escolar. Convivendo com mães de alunos, da posição de mãe de aluno há mais de uma década, percebo que muitas delas se escandalizariam se lessem o que estou escrevendo.

Recentemente, uma mãe minha vizinha ficou espantada por eu dizer que ela é, segundo a lei, responsável pelas filhas até os 21 anos. Como a filha “já é mulher”, conforme palavras da própria, ela acha um absurdo “essa lei”. Quem é responsável pelo que, na sociedade? Qual a nossa parte na responsabilidade é uma pergunta que, se parássemos pra tentar resolver, imagino que movimentaria positivamente a sociedade. Se, por exemplo, nós mães nos dermos conta da dimensão da importância da educação que damos aos nossos filhos, futuros adultos que interferirão por cerca de seis décadas na vida de sabemos lá quantas pessoas, que efeitos isso poderia acarretar no modo como educamos nossos filhos?

Acho que já não é mais momento de cuidar do país do futuro, mas do futuro que já chegou: novo mercado de trabalho, que exige um trabalhador muito mais qualificado e preparado para aprender permanentemente; o Brasil está buscando um novo lugar no mundo, depois de décadas como país subdesenvolvido, anda fazendo convênios pra mandar estudantes pelo mundo afora, de modo que é preciso repensarmos nossa relação com o país, em prol de construirmos um país melhor.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012


Essa foto eu mesma tirei neste sábado, 20.10.12 à  tarde. Sou eu lendo no meu ex-quintal micro da frente, atual micro-escritório de estudos. A maioria das paredes da minha casa não foram embolsadas, mas isso não impede a organização dos estudos e do tempo. Para os livros, tenho utilizados caixotes de laranja como estantes. Isso está ajudando muito a arrumar os livros, por assunto ou prioridade de utilização, super barato, porque não pago pelos mesmos, somente pela tinta - que eu mesma aplico. (Tudo bem que não fica perfeito, transformado num móvel estiloso, e tal; mas fica adequadíssimo para os meus preciosos exemplares, que é a ideia, afinal.)

Se há 14 anos atrás, quando eu estava construindo esta casa, alguém me dissesse que eu um dia estaria lendo ali, por conta de um mestrado, eu nem cogitaria em acreditar. E essa é boa parte da graça de se trabalhar para andar pra frente: poder olhar pra trás e ver que andamos muuuuito pra frente. No entanto, 30 segundos após essa feliz constatação, começo a pensar que a tarefa à frente é nova superação. Com tudo o que a gente aprende ficamos na obrigação de fazer melhor nos anos seguintes da vida, e esta perspectiva é bem animadora.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

"A música é só música", já dizia Jorge de Sena.


Ato 21 do Lago dos Cisnes: dança espanhola. Aquela música maravilhosa que toca quando acaba o bom dia brasil da rede globo, toda a sexta-feira. Amo desde a infância as composições de Rozhdestvensky Tchaikovsky (mesmo ele tendo esse nome difícil).

É claro que pra entender do que estou falando é preciso ter ouvido algo que ele compôs, como ABERTURA 1812 ou O QUEBRA-NOZES. Músicas estimulantes, daquelas que fazem-nos lembrar que o bom de estar vivo é poder ouvir esse tipo de coisa. Além do mais, é uma ótima sensação pensar que pertenço à mesma espécie de alguém capaz de tais criações!

Falando em seres humanos brilhantes, Jorge de Sena também me faz sentir maior do que eu, quando o leio; assim como Luis Maffei me encanta quando ministra aulas e José Reinaldo de Carvalho quando fala do Partido. Paixão é o que cria diferencial em cada uma destas pessoas, penso.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Prosperidade e fartura!


Hoje, como muita gente sabe, é dia de São Cosme e São Damião. Uma data importante para católicos e o povo dos terreiros país afora. É festa de criança nos centros. Embora eu entenda a importância deles, não é uma das minhas festas preferidas, do ponto de vista prático (dá muuuito trabalho lidar com as crianças na macumba, sabem...), mas é uma data que considero importante. Tenho filhos e vivo pedindo proteção pra eles, e agradecendo também.

Vi uma notícia horrível: uma mulher no Amazonas tirou a filha da barriga de outra, com uma gilete e quase conseguiu roubar a criança. a mulher está mal num hospital. O mundo está muito perigoso para as crianças, sabemos. Vejo todos os dias as perspectivas sendo afastadas de todos aqueles que são filhos de trabalhadores, assalariados e desempregados, com pouca instrução e que só tem acesso à escola pública, muitas vezes em municípios como São Gonçalo que não dispõe de bibliotecas públicas, mergulhados na baixa qualidade do ensino, que vão sendo colocados e mantidos numa situação de desvantagem.

Essas coisas me incomodam porque há tarefas para os pais, e há tarefas para governos e sociedade. Mas qual parte de quem, como levar as pessoas a cumprir sua parte? Certamente o modo como a tv está organizada/dividida no Brasil não contribui muito. Essas coisas atrapalham até mesmo pessoas que entendem a necessidade do cuidado passo-a-passo com a formação escolar, literária, de conteúdos acadêmicos.

Não é que me falte esperança, mas no momento sinto-me bem sozinha nessas preocupações, visto que a maioria das organizações de algum modo ligadas a política concentram-se na parte eleitoral desta. Se eu sei que o caminho da luta é longo, sem organização então....

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O aniversário de 60 anos.

Hoje é um dia muito especial: hoje Salaciel completa os seus primeiros 60 anos de vida. Eu, que ainda vou fazer 40, faço pouca ideia do que seja viver esse tempo todo. Até porque ele é paulista e homem, além de flamenguista (e eu sou vasco!!!). Imagina a quantidade de lembranças das situações vividas, das pessoas ao longo desse percurso todo, dos momentos de luta pela vida - em particular e no contexto do convívio social? Algo que é muito interessante nele é que vive e não é levado pela vida (sabe, já que tá vivo ainda, vamo indo...). Protagonista é o papel que ele abraçou.

 Se eu tivesse que escolher uma palavra que ilustrasse sua vida, seria movimento. A realização, ao longo da vida, do trabalho e demais atividades necessárias à estruturação de sua vida, aos cuidados com sua família e para a superação, que é outra palavra que deveria vir ilustrada com a sua foto. Tudo isso numa embalagem cheia de charme, ainda um paizão muito atento, um homem que merece todo o meu respeito, consideração, amizade e amor. Parabéns pelo seu dia!

domingo, 23 de setembro de 2012

Meus Saramagos.


Quando eu tinha 16 anos, ainda não tinha lido nenhum livro sério, que não fosse didático. Havia acabado de me filiar ao Partido Comunista. Uma pessoa que eu conhecia, mais velha do que eu, me recomendou começar a leitura por O NOME DA ROSA, do Umberto Eco. Na verdade, ele me recomendou começar pelo filme feito a partir do romance, e em seguida ler o romance. Foi um ótimo conselho.

Alguns anos e leituras depois, tentei ler pela primeira vez ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, do Saramago. Foi em 1994, estava num momento bem difícil da minha vida e não consegui passar do segundo cego...uns 4 anos depois eu tentei de novo e, após uma leitura que me causava grande sofrimento, consegui concluir a empreitada. Foi meu primeiro Saramago. Com o tempo venci MEMORIAL DO CONVENTO, TODOS OS NOMES, escolhi para um trabalho de pós-graduação O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS. Segui lendo O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO e CAIM - durante um carnaval. Comecei A CAVERNA, mas parei aproximadamente antes da metade, por ocasião do processo seletivo para o mestrado no final de 2010.

Desde que passei para esse mestrado ainda não consegui retomar a leitura dos meus Saramagos, comprei LEVANTADO DO CHÃO e HISTÓRIA DO CERCO DE LISBOA.

No dia 18 de junho de 2010, uma sexta-feira, quando ele morreu, levei os meus Saramagos para a aula que eu ia dar. Um escritor precisa ser lido, acima de tudo.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Sabe Karl Marx...


...aquele "velhinho" que, autor de estudos sobre economia e sociedade, reunidos naquele livrinho singelo "O Capital"? Então, a gente olhando pra a sociedade atual, pro nosso histórico de guerras, pra quantidade de desigualdades em que vivemos, então: já não seria o momento de começarmos - a sério e em conjunto - sobre a necessidade de modificarmos o modo como essa sociedade se estrutura, ou seja, pisando na humanidade de milhares de pessoas, comprando e vendendo a humanidade de outros milhares?

Essa imagem é uma daquelas estátuas de ANTONY GORMLEY, que estão expostas no CCBB-RJ até o próximo domingo. Já vi pessoas tirarem fotos ao lado de algumas delas, sentadas, deitadas, abraçadas. A mim estas imagens somente lembram presos políticos, prisioneiros de guerra, mortos em guerras pelo mundo afora.

Concordo que, no momento, eu mesma não saberia  traçar exatamente os caminhos para a construção de uma nova sociedade, e não é tanto por causa das experiência socialistas iniciadas no século XX, mas por causa da força das propagandas em prol do individualismo e do consumo das nossas sociedades capitalistas, que moldam as pessoas desde a mais tenra idade. Como construir uma sociedade diferente quando, por exemplo, todas as soluções propostas - das questões de saúde às de meio ambiente - passam pelos interesses comerciais?

                                                       Marx - Engels - Lenin - Stalin

Passei muitos anos no Partido Comunista e, embora eu não consiga mais compor os seus quadros, não apaguei essa experiência de mim e nem pretendo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Da série criando filhos...


Praia sempre me lembra Yemanjá. Essa foto a minha menina tirou de mim em dezembro de 2011, em Niterói. Posto porque tem distância suficiente pra se apreciar o mar, e não eu - que nem tô em grande forma assim, nem sou chegada a exibir o meu corpinho.

Esses dias me dei conta de que nós, mães nos sentimos tão grandes por "dar a vida" aos nossos rebentos que nunca pensamos na possibilidade de que o presente pode não ter agradado ao presenteado. Ideia absurda? Radical? Acontece que a vida é, assim como o ser humano, algo grandemente complexo; envolve perspectivas, local de nascimento, família, dinheiro ou a falta dele, e uma série de coisas que eu não sei enumerar.

Infelizmente, conheço pessoas que perderam filhos para o suicídio, devido à insatisfação com a vida. Eu mesma, quando nova, não andava lá muito satisfeita, ao ponto de cogitar seriamente tal possibilidade findadora... Enfim, não é um assunto agradável ou fácil, mas ignorar também não me parece uma boa solução. Felizmente, por outro lado, conheço bastante gente que, como eu, passou por isso e deixou pra trás. Também não me parece que algum dos meus rebentos esteja "nesse mau momento", mas como mãe procuro exercitar o entendimento de que não tenho nenhum superpoder, capaz de ler mentes nem fazer adivinhações. Meus únicos instrumentos são beijinhos, colo e conversar, no máximo de dias do ano.

Ontem eu estava lendo sobre uma "geração nem-nem", jovens que nem trabalham, nem estudam. Sempre me pareceu que a falta de perspectivas é um grande inimigo da vida feliz de qualquer ser humano, em qualquer idade da vida. Por mais que a gente não tenha o lado material como prioridade, o que é realmente uma boa pedida, até pra ascender aquele incensinho e meditar tem de ter a grana pro tal incenso e o tal local, e tudo isso custa. Sendo assim, perspectivas de emprego, profissão, bem como ganhos relacionados a isso, sobretudo para os que estão chegando à idade adulta, são temas que tiram o sono.

Não consigo imaginar como alguém na flor da juventude consiga nem estudar nem trabalhar, embora eu não esteja duvidando dos dados que tem aparecido sobre isso. Fico pensando como alguém, neste momento da história, neste mundo dinâmico, consiga "deixar a vida passar" assim.

Viver é um presente que, embora "difícil de aprender a usar", vale à pena quando a gente consegue aceitar.



domingo, 16 de setembro de 2012

O que muda com o passar do tempo?

Essa é uma foto do centro do Rio de Janeiro, no início do século XX. Vemos mudanças bem aparentes no modos como as pessoas se vestem, e mesmo na pouca quantidade de pessoas nessa rua. Olhando por esse prisma, parecem ter havido grandes mudanças. Mas, pensando com pouca pressa, me parece que a mudança é mais no campo da aparência mesmo, e do acompanhamento do crescimento das cidades. Por exemplo, essas mulheres poderiam estar passeando, indo comprar aviamentos ou livros, indo à igreja, coisas que hoje se faz em qualquer bairro mas, à época, estavam restritas aos espaços centrais das cidades.

Os prédios nem mudaram tanto assim, são de um tempo em que as coisas eram construídas para durar e resistir, mas as ruas ganharam muito mais comércio com a expansão e consolidação do capitalismo no mundo. As roupas mudaram muito (embora ainda sejam feitas com tecido na maior parte dos casos), assim como os cabelos e os sapatos, se falar nos chapéus - que saíram de moda, mas, talvez o que mais tenha mudado é o modo como passamos a encarar o espaço público, muitas vezes não pensando mesmo na diferença entre este e o espaço privado, o que demanda modelos de comportamento diferentes em cada tipo de espaço que estejamos frequentando.

Alguém mais sábio do que eu já disse que velhice ou juventude são questões de espírito, de como nos sentimos. Conheço pessoas que me permitem comprovar essa ideia, tanto os jovens de espíritos quanto, lamentavelmente, os desistentes que envelheceram. Penso que tenho me imobilizado tanto nisso -passagem do tempo - porque, com a chegada da meia idade e considerando que ainda "ando" com a minha vida, estou sendo confrontada com o caminho que percorri até aqui porque preciso tomar decisões para seguir em frente. É bom, por ser prova de que estou em movimento, mas é ao mesmo tempo sofrido porque (eu já sabia) errei muito, e nem sempre no sentido camoniano. (Camões tem um poema em que escreve: "errei todo o discurso dos meus anos").

Percebo que a idade impõe novo ritmo até para olhar para as coisas mais banais, como andar na rua (por que ir, pra quê, por quem, com que roupa a que horas...é mesmo necessário, enfim). No entanto, com um certo acúmulo de coisas vividas e objetivos a realizar não é tão difícil redirecionar os pensamentos para as tarefas, felizmente. Mas acho curiosas essas percepções. Fico feliz por poder estar aqui ainda, olhando em volta, para trás e para diante. Talvez só esteja estranhando olhar tanto; talvez só esteja me adaptando ao fato de que a nossa própria vida muda bastante quando a vamos vivendo minunciosamente, quando não nos mantemos aprisionados na rotina da caverna (contrariando, muitas vezes, o que se esperava de nós).

Certo é que todas as escolhas tem um preço e um custo.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Tempo e formação.


Mesmo com todas as inovações tecnológicas, nos formatos através dos quais podemos acessar as informações e o conhecimento acumulado pela humanidade ao longo de séculos de existência, não há fórmula mágica que permita com que magicamente apreendamos tudo imediatamente. Aliás, formação e imediatismo não cabem na mesma frase. Em parte porque, mesmo fazendo recortes que limitem o espectro de conhecimento a que nos dedicaremos, há uma grande quantidade de dados a conhecer; mas também porque formação requer amadurecimento do que se lê e aprende.

É lógico que uma formação assim exige dedicação e continuidade, mas também são fundamentais tempo e sossego. Nesse ponto é que podemos perceber como é prejudicial essa contínua falta de políticas governamentais para o desenvolvimento da educação. É sobretudo aí que se constrói uma educação sem qualidade, pois os profissionais - via de regra - tem de ser formar com o mínimo e ralar dia e noite pra ganhar a vida. Isso sem falar nos investimentos necessários em livros, revistas especializadas, visando a atualização dos profissionais.

O fato de a sociedade estar organizada de modo que o que importa para a elite é manter o seu status econômico; para os que governam, manterem-se no poder e resta aos menos favorecidos e de formação acadêmica menor, para usar eufemismos, o que sobra é almejar chegar lá por um toque de mágica que a indústria cultural vem explorando desde sempre, seja em programas de auditório, de "descoberta de cantores" ou os novos reality shows. Ilusões alimentam existências inteiras.

Encarar o mundo real da necessidade constante de esforço e dedicação diante de livros, cadernos - pois é preciso ler, mas é fundamental escrever e pensar sobre o que se lê, como entendemos, o que apreendemos, do que discordamos, etc. Diferente do que parece, o maior prêmio que podemos conquistar aprendendo é a satisfação de nos sentirmos mais humanos, mais completos, mesmo que não sejamos bem remunerados por isso, embora precisemos de salários para viver, como todo o cidadão de bem.

domingo, 9 de setembro de 2012

O mais que humano em nós.

Estou aproveitando a reprise de A ESPERA DE UM MILAGRE, no SBT, por ocasião da morte do ator MICHAEL CLARKE DUNCAN. O filme é de 1999, mas ambienta uma história passada na década de 1930 - Grande Depressão.

É um filme produzido com muita qualidade, reconstituição de época primorosa, fotografia muito atenta e as atuações. As histórias entrelaçadas que são contadas simultâneamente, com maestria, são marcantes. Desde a questão principal - o crime brutal pelo qual o negro foi condenado, como deve ser o tratamento dado a condenados à morte, passando pela doença da esposa do diretor da prisão, o filhinho de papai sobrinho do governador do Estado, a doença do chefe da milha verde e - principalmente - ética.

Até onde vai o nosso dever, a nossa tarefa, quando devemos duvidar daquilo que conhecemos e apostar ou priorizar o ser humano em cada situação? Não é tarefa simples, tranquíla ou m linha reta essa coisa de levar a vida, sabemos. O filme é uma peça de ficção, mas levanta questões, embora a arte não tenha isso como função.

Aparentemente, poderíamos dizer que o filme fala dos dons do negro. É verdade. Mas, também, não fala das pessoas, de suas questões, do que vêem pelo mundo ao longo da vida, do que pensam e sentem uns sobre os outros? Lembremos que o filme começa com um idoso rememorando um momento de sua vida, a partir da imagem de um filme que o fez automaticamente voltar ao passado.

E o que este o velho se pergunta, ao final: vou ver muitas pessoas que amo morrerem antes de mim, o que vou dizer quando Deus me perguntar porque matei um dos seus milagres? que era o meu dever? ou seja, o que importa sabermos da nossa vida? o que fizemos com o tempo que nos foi dado. O que estamos fazendo com o tempo que nos foi dado?

sábado, 8 de setembro de 2012

Exercícios, testes e rascunhos.

Nesta foto, assim como na maioria das fotos que se consegue tirar da minha pessoa, estou com uma postura ou expressão inadequada. Neste caso específico, foi a insistência da minha menina que me deixou com esse sorriso engraçado. Ela prefere tentar me fazer rir antes de tirar a foto. Quanto a mim, na verdade eu desejava apenas registrar a toca preta que, aliás, ficou pequena. Eu estava experimentando um modelo de boina, então, como teste, ficou legal.

Na vida há algumas oportunidades de testarmos coisas, caminhos, comportamentos,ideias, conhecimentos. Convenciona-se que os períodos da infância e adolescência, os momentos de formação do ser humano por excelência, são a época adequada para isso, preparando o adulto que todos nós devemos nos tornar a partir dos 18 anos, a maioridade civil. No entanto, penso que seja fundamental mantermos estes exercícios de viver utilizando a mente ao longo de toda a vida.

Contra uma vida orientada pelo conhecimento associado com o discernimento e a observação, estão as sociedades formatadas no capitalismo em que, como o que se objetiva é o lucro e para quem tudo o que há na sociedade - de produtos a comportamentos - deve ser mercadoria cambiável, orienta-se todas as pessoas a manterem padrões de comportamento, portanto afastadas da atividade de pensar. Isso que acreditamos ser natural, de termos de trabalhar muito para garantir o dinheiro necessário pra pagar as contas, além de mantermos o emprego, e estudar alguma coisa para melhorarmos de posição, para melhorar o salário, ficando sem tempo de ler, apreciar arte, música, desenvolver algum hobby, atividade física - ou seja, usufruir da vida - é fruto do modo capitalista de organização, em que a maioria trabalha demais e ganha absolutamente pouco para que a minoria que está no controle viva com ouro e jóias ferraris e iates, apartamentos de luxo e todo o conforto.

Não, não há nada de natural nesta exploração toda. A minha boina, esse rascunho, nasceu disso: da falta de dinheiro de comprar uma boina - que custa em torno de 120 reais. Tento fazer uma similar de crochê que só me custa tempo e dois novelos de linha (15,00).

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Quem é vivo sempre aparece.

Chegando cada vez mais perto de completar as primeiras quatro décadas da existência, em plena crise de meia idade, portanto, percebo que certas mudanças no comportamento se impõem, como acessar muita memória diante de certas questões. Já são quase 20 anos como mãe; quase 15 anos convivendo com as questões escolares dos pequenos; uma enorme sessão de arquivo de filmes, desenhos animados e seriados; músicas... e a convivência.

No meu caso, devo admitir que - no que tange à convivência - ainda tenho muuuito o que aprender. Posso ser otimista e pensar que é assim mesmo, que tudo está em movência e que isso é rico. Sim, isso é verdade. Mas em que eu contribuo com o andamento da sociedade, claro, de parte dela. Começa aí: em que parte da sociedade eu estou? Em qual ou quais eu posso contribuir?

Não me contenta pensar que só saber que não posso cuidar somente de mim como se fosse uma ilha já seja alguma contribuição, até porque uma ilha só é uma ilha porque está cercada de mar e tem terra unida, portanto não é assim tão auto-suficiente. Do mesmo modo, do que adianta tanta formação acadêmica, tanto tempo vivido se nada é compartilhado. Sim, minha experiência serve aos meus filhos, ao encaminhamento da sua formação - e eu sei quanta falta isso faz.

Ainda não me acostumei com essa orfandade partidária, agora que o meu partido resolveu se adequar ao jogo eleitoral de vez e sem possibilidade de retorno. Talvez parte desse incômodo seja consequência dessa mudança grande proporcionada por estar no mestrado; talvez seja muito esse impacto de estar me sentindo sem lugar; certamente é prova maior de que estou bem viva.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Esta foi a primeira coberta de crochê, puramente de linha, que eu fiz. Ainda tá no programa uma em tons de verde pro meu pequeno, tons de rosa pra minha menina e tons de azul pro meu mais velho. Eu gosto muito de fazer crochê, de preferência peças que eu possa usar, como camisetas e tocas.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

39 anos e seis meses

Esta imagem é do filme COMER AMAR REZAR. Acho que a gente sabe que está em crise de meia idade, além da idade de 39 anos e seis meses - é claro, quando começa a pensar na relevância do que já fez e escolher em que poucas coisas vale à pena investir o tempo da próxima meia vida que esperamos viver, visando deixar algum legado, sobretudo quando temos filhos.
Não é um lugar agradável para se estar, eu acho. Já acumulou-se um tempo de vida suficiente para perceber, por exemplo, que não fazemos falta na vida de pessoas a quem dedicamos um tempo importante de nosso percurso e energia. É uma constatação de certa forma inútil, embora prática pra ajudar a canalizar nossos interesses em outros.
Por outro lado, não é a pior das situações, já que tenho perspectivas, talvez as melhores que já tive na vida até hoje, o que é curioso pra mim. Também há de se levar em conta esse momento histórico, mais próximo do pós 11 de setembro e nem por isso tão distante do pós segunda guerra mundial. Um mundo instável, no que tange ao funcionamento do capitalismo - menos industrial e, portanto, mais volátil ou líquido - potencializando a movência desta crise de meia idade.
O bom das crises é que não são eternas. Desarrumam para rearrumar. O ruím é que o estoque de paciência não estava pleno.

domingo, 12 de agosto de 2012

Medalha de ouro para o Brasil


Sábado,  dia em que os meninos do futebol perderam o ouro olímpico,mas as meninas do volley lavaram a alma! Confesso que eu não levava, no início, fé nelas. Fico feliz por ver que eu estava muito errada, porque elas correram atrás dos seus objtivos. É algo inspirador.

Se pensamos no Brasil, que vem tentando ocupar posições de destaque no cenário internacional, atirando para tudo quanto é lado, mas sem construir um caminho com o tripé planejamento, investimento e continuidade, o feito das meninas e de todos esses corajosos atletas ganha mais importância.

Não é possível (nem justo) ter como vitoriosos somente os medalhistas: para muitos, vitória maior é ter conseguido chegar ao evento olímpico, ter feito o seu melhor durante anos sem a garantia de ao menos estar lá pra competir. Essas coisas são inspiradoras, o tal espírito olímpico que anda tão esquecido nesse mundo capitalista e belicista.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Voltei!!

Depois de algum intervalo, não que haja multidões inconsoláveis me esperando, bem sei, voltei. E explico logo a foto do bonitão aí, e refiro-me ao de duas patas, é claro:
Houve época que uma mulher não era nada sem um homem pra chamar de seu - marido, diga-se. Mas não, não estou com nostalgia desses tempos, muito pelo contrário. Desejo mesmo que isso esteja cada vez mais distante. Nada como cuidarmos das nossas próprias vidas e termos responsabilidade com as nossas próprias consciências e corações. Não é justo que metade da humanidade tivesse como função simplesmente estar à disposição da outra metade.
No entanto, viver sozinha não é uma coisa legal (acreditem, passei os últimos 10 anos assim!). Agora que eu tenho o meu amor ao lado, entendo como é bom pra a nossa vida alguém que nos ama, presta atenção, beija e morde, enfim, como é bom ter o par.
Sim, vivi, trabalhei, embora eu não tenha composto músicas maravilhosas como a ADELE, fiz minha parte construindo a minha vida, mas é tão bom ter o coração pulando de novo.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Não me enquadro em lugar nenhum.

Hoje "o tempo está feio", meio nublado, com risco de chover. Esse é o mais próximo que chegarei do meu mal humor hoje. Ao fim e ao cabo, no mundo como está e com o PCdoB como está, não poderei ficar. Não sei lidar com a opção eleitoral, digamos assim, do Partido, e não é do meu feitio ficar pela metade - defendendo o que me interessa e batendo no que discordo. Acho que para ser dum partido comunista você tem de comprar o pacote todo, as discordâncias são dentro do partido, pra fura o discurso deve ser unificado. Não é uma boa solução, mas é menos pior do que ficar em cima do muro. Acontece que estou sem lugar. Do jeito que vai a minha vida, na academia também não duro muito. Mas, isso é outro problema.

terça-feira, 13 de março de 2012

Medo de partir o coração novamente.


Ano passado, entre um Sena e uns Hobsbawn, dei uma lida em COMER AMAR REZAR. Não é uma leitura difícil, do ponto de vista da densidade do texto (que não há), e proporciona um bom momento "eu-comigo". Embora pareça, eu não estou debochando. Dia desses, na véspera do meu niver, peguei o filme para assistir, pois não tinha o livro à mão, e com o filme só seriam necessárias duas horas.

Gosto muito daquele brasileiro, e principalmente de terem escolhido o Javier Barden. Hoje me lembro particularmente de uma cena, quando ele vai ao Xamã e o velhinho lê em sua mão que ele tem medo de ter o coração partido novamente. Ele havia sofrido muito com o divórcio.

Às vezes é difícil mesmo recomeçar, e o medo de se machucar é uma coisa forte, não dá pra ignorar.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Opção política.


Nesta foto ao lado, embora não seja possível me localizar, estou num curso de formação política da LSR, que é uma corrente trotskista. Sim, eu escrevi que estive num curso de uma corrente trotskista. Acho fundamental ter um caminho político definido, mas me parece que estou ainda num momento de busca.
Tenho plena consciência de que atuar politicamente buscando destruir o capitalismo e construir o socialismo não é uma tarefa em linha reta. Mas até que ponto fazemos ajustes e a partir de que ponto há capitulação?
Em que pese a decisão de transformar a sociedade, vivemos nela e sob suas regras.
Há também uma outra coisa que me preocupa: os membros desta sociedade recebem formação e são bombardeados com publicidade no sentido de garantir a manutenção deste sistema consumista e individualista. É dentre esses mesmos cidadãos que precisam se erguer os construtores do socialismo. Difícil, né? acontece que construir uma sociedade com divisão coletiva da produção coletiva é uma necessidade, se quisermos garantir a continuidade de nossa estada neste mundo. O capitalismo é predador.

segunda-feira, 5 de março de 2012

39 anos


Agora que o dia 4 de março se foi, e é com enorme alívio que digo isso, começo a me sentir melhor, fisicamente. No entanto, não completo 39 anos de idade impunemente. Eu, que sempre quis ser livre, tenho minhas mochilas pesadas pra carregar e, por mais que seja duro admitir, não sou tão boa mãe como gostaria. Erro demais. Isso me pesa muito.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Domingo.


Sou sempre muito agradecida por algo ter dado muito errado na educação que recebi da minha mãe, em que eu deveria ter me casado. Sou muito grata por nunca ter podido, mesmo quando eu quis, atrelar a minha vida a alguém para viabilizá-la materialmente. Não, eu não sou independente e solitária somente por opção. As pessoas que poderiam ter sido meu apoio, sobretudo homens como meu pai, pais dos meus filhos e marido, tinham como preço me destruir - o que nunca pude permitir.

Mas ser grata pela liberdade não significa ignorar que ela também custa muito caro. Hoje e ultimamente a solidão é o juro que mais me tira o sono, literalmente.

Assim fico pensando em Camille Claudel e Jane Austen entre uma tarefa de mestrado e os estudos de história e política.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um por um os filhos crescem.

Sempre que os meus filhos crescem um bocado, por exemplo, quando completam 10 anos (dois dígitos na idade...), quando vão para o Ensino Médio, quando o Rafael completou 18 anos, sempre que passamos por isso me sinto defasada e desnecessária, o que é muito bom, sinal de que os criei para serem independentes, que era mesmo o que eu planejava. No entanto, se fiz de caso pensado, porque me sinto como se tivesse sido pega de surpresa por essas mudanças?

Mão é um "bicho" sem muita lógica, é a única explicação que me vem à cabeça.

Estão ali, no outro cômodo, o meu meninão e a minha menina assistindo (e se acabando de rir) ao filme Os Normais 2. Essas risadas são dos melhores sons que uma mãe pode ouvir.

domingo, 1 de janeiro de 2012

1º de Janeiro - centenário de JOÃO AMAZONAS.



Hoje, além de ser início do ano de 2012 e, portanto, dos 90 anos do PC do B, é o dia em que completam-se 100 anos do nascimento do João Amazonas. É, deste modo, uma data grandemente especial.